16.12.04


Todos nós temos Octávio na voz/ E temos na sua voz/
A voz de todos nós.

A FALTA QUE OCTÁVIO NOS FAZ
por José Meirinho, industrial de sabões.

Os Media britânicos adoram as expressões metafóricas aplicadas ao futebol, como aquela do autocarro estacionado à frente da baliza. Imagino o delírio colectivo se um dia deparassem com alguém como Octávio Machado numa conferência de imprensa.
De facto, algo está errado no futebol lusitano, quando não há espaço para um Homem, e acentuo o agá grande, com a postura pós moderna de Octávio Machado. O actual bombeiro – agricultor, é uma baixa tremenda no reflectir desconstrutivista internacional. Octávio sempre foi, é e será, uma figura incontornável, sobre a qual muito se escreveu e disse, mas à qual nunca foi prestada a devida homenagem. Autor de inúmeras pérolas de narrativa, mordaz e contundente nas suas intervenções, foi vítima da incompreensão popular quando proferia frases históricas como: "vocês sabem de quem estou a falar", ou " não adianta falar em nomes", e ainda " na devida altura, ficarão a saber". Pretendia assim, o pundonoroso Palmelão, estimular o raciocínio individual, que cada português reflectisse e não ficasse agrilhoado à imparcialidade das opiniões dos "Paineleiros" ( expressão octaviana da primeira metade da década de 90), sobre a problemática futebolística portuguesa dos finais do séc. XX. Não só não realizou esse desiderato, como foi acusado de Dom-quixotismo por uma sociedade retrógrada e acomodada.
Octávio, a quem um dia o bibota de ouro Fernando Gomes se referiu como "um palhaço e um bufo desde o tempo do senhor Pedroto", revelou-se um La Palissiano convicto, ao reagir a uma crítica de Augusto Inácio com um insofismável: "- Um burro, por usar óculos, não deixa de ser um burro". Contribuiu como ninguém, para o enriquecimento linguístico reavivando vocábulos caídos em desuso, como aquele com que apelidou um ex-jogador, à altura comentador desportivo e actualmente empresário hoteleiro. Nada mais nada menos, que um seco "Caneleiro"!
O "míssil", como foi designado por André "afinca–pé",o mais promissor treinador-adjunto do futebol português, merece indubitavelmente um lugar no Hall of Fame das figuras ímpares da pós-modernidade.